Roma
Pânico, de início um pânico que não saberia como descrever, o que tudo somado, não passaria jamais de uma tautologia dado que, sabendo ou não sabendo, há muito que lhe faltavam modos práticos de o conseguir descrever. Um verbo que deixara de se lhe aplicar, descrever. Em boa verdade, reconheça-se, depois daquilo não lhe sobravam muitos verbos. Pânico, pois, por conseguinte. Um ataque do mais puro e básico pânico, tout court. Porque de ataques de pânico sabia ele, e não tinha como não considerando-se que dois terços da sua vida podiam em rigor ser epitomizados como um moroso e incessante ataque de pânico. Não por ele, lá está, que não poderia epitomizar, nem descrever, nem pormenorizar, nem detalhar, especificar, referir, expor, narrar. Comunicar, numa palavra, não por ele que não podia comunicar. Mas a ser assim, tratar-se-ia de um pânico de uma dimensão invulgar, inaudita, a manifestação de um pânico tamanho que teria que situar-se numa hierarquia estacionada acima do pânico crónico que singularizava a sua existência, ou dependendo do prisma, a inexistência da mesma. Ainda, dependendo do referido prisma, a hierarquia podia não obstante situar-se mais, e apropriadamente, abaixo, porque quando cheira a inferno, os círculos da agonia aumentam paulatinamente à medida que se desce. Pavor, portanto, para distinguir da menoridade do pânico que não apenas é recorrente, banal, ordinário e, na circunstância aqui em pauta, literariamente medíocre se se for a levar em conta o sofrível emprego por dez vezes desse concreto pânico (onze) num mesmíssimo parágrafo.
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Mas não era senão o velho e conhecido pân..., perdão, pavor, terror, desesperação, agonia, angústia, suplício, tudo isto e uns pós mais que não se atreveria a descrever, embora descrever na sua situação, enfim. A tormenta, a tortura que a perspectiva do contacto com o frio invariavelmente lhe causava. Em síntese era isso. Se porventura desse em fazer frio, Deus nos acuda, que será de mim. Mas não fez. Umas nuvens de chumbo, plúmbeas se se quiser ornamentar um nadinha a escrita, embora em essência não se pretenda com isto dizer diferente, isto é, uma referência a um metal que composto por oitenta e dois protões e conta igual de electrões pesa como o diabo, dando de barato, claro está, ser o diabo pesado, o que é duvidoso porque se há coisa que o diabo é é enganador, fazendo-se passar pelo que não é, no fundo análogo às ditas nuvens que aparentavam ser uma coisa para se revelaram ser outra diametralmente oposta. À primeira insistência do sol foram, a princípio, consentindo umas aberturas azuis aqui e acolá e após isso, nem meia hora, menos, qual meia hora, vinte minutos, dissolveram-se como uma liga flácida à primeira manifestação de calidez, dissolveram-se sem tempo de dizer daqui me vou, dando de barato que falem as nuvens, o que é igualmente duvidoso.
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Quem fala sim, que quanto a isso não escasseia gente que assegure escutá-los, são os anjos que aparecem sobre o Golfo degli Angeli por volta do pôr-do-sol. E esta que se espraia até ao referido golfo é Cagliari. Por estas bandas chamam-lhe Casteddu que se prefere aqui o sardo ao italiano. Casteddu Mannu não venha a ser confundida com Casteddu Sardu, que ao contrário desta fica no extremo norte da ilha e guardada para outras núpcias. Vista do alto deste jardim, é uma composição em amarelo-musgo com uns laivos de talha dourada quando o sol a roça do ângulo certo. Uma mescla de janelas e telhados e varandas inserida numa teia de linhas de sombra que passam por ruas e avenidas. E um sortido de igrejas de todos os tamanhos e feitios que só deste modo se podem abarcar as diferentes magnitudes da devoção. E cúpulas que a oxidação do cobre, ou o toque da deusa Vénus, consoante a maior ou menor propensão para a crença em fadas, tingiu de verde. E torres, e sinos, e campanários. Fora, claro, os edifícios, muitos, vários, que sem aspirar a lugar no céu disponibilizam ainda assim aos que insistem em vaguear por esta terra uma habitação mais ou menos condigna, determinada pelas posses ou pela sorte, que debaixo do sol é o que verdadeiramente vai contando. Cagilari que se distende numa amálgama de vários estratos dissonantes, um alinhavado dos muitos séculos que por aqui passaram, a lava de cidade que escorre colina abaixo para se fundir com o Golfo degli Angeli.
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Mas nem anjos nem vistas da cidade que a pressa é inimiga da perfeição. Parece que sim, que mais uma vez se confirmou o dito. Uma lástima pois que tenha sido tudo tão apressado, de improviso, sem pensar, um impulso, um agora ou nunca. De maneira que o posicionamento era atabalhoado, a amplitude que a vista abrangia circunscrevia-se a uma secção do céu onde pouco se registava fora os aviões que se aprontavam para aterrar em Cagliari-Elmas e duas ou três gaivotas extraviadas. Anjos não, que dependem da fé e meio século daquilo tende a gerar um ambiente hostil para a espécie. Mas exceptuando-se isso não havia justificação para grandes lamúrias. O pavor do frio sumiu-se com um ímpeto similar ao que o tinha acometido ao brotar das primeiras centelhas de sol. Sol que, combinado com o dia, está já de malas aviadas para outros continentes mas sem que por isso a temperatura dê mostras de querer provocar calafrios aos mais timoratos. E que mostre que para essa eventualidade veio ele bem apetrechado. O casaco de tweed, sim, puído, encardido, a clamar por um suplente que o substitua, mas em nada menos confortável por causa desses predicados, o pullover de lambswool, uma extravagância, credo, a discussão que gerou, a funcionária de boca caída, cena digna de um parágrafo exclusivo, houvesse tempo (não há), decidiu-se que somente para ocasiões solenes, mas que é preciso ser-se um friozinho húmido e de má índole para ali conseguir penetrar, isso é, a camisa de flanela, as calças de bombazina, a camisola interior x por cento de lã e os restantes y em poliéster, e fosse isto um catálogo de pronto-a-vestir prosseguir-se-ia com os detalhes dos sapatos, meias, boina, mas não sendo esse o caso, apenas uma referência muito de passagem ao cobertor que lhe envolvia e aconchegava as pernas, de lã pura e virgem como de algumas donzelas medievais se diz que o foram antes da extinção. De frio estamos pois conversados. Já para calor haveria razões, mas é uma ciência pouco exacta a fisiologia, cheia de enigmas e mistérios, um deles este, que por mais quilos de roupa com que o atafulhassem calor era sensação que nenhum nervo, nenhuma sinapse lhe conseguia transmitir ao cérebro.
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O que não era de todo fenómeno recente essa disfunção termal, nem sequer consequência daquilo. Desde sempre que meras alusões à iminência de temperaturas em queda lhe desencadeavam um tal acesso de tremores e arrepios que quando estas porventura se materializavam já o corpo se encontrava em modo de hipotermia avançada. Que o destino não deixa de ter os seus paradoxos, não deixa. Quis o tal infesto destino, ou em rigor, a fome que é um catalisador mais dinâmico que qualquer destino, transladasse do calvário de Skibbereen no ânus da Irlanda para o degredo da pradaria do Saskatchewan a família que depois a roleta do entrecruzar de genealogias e linhagens, volvido um século, lhe foi desaguar no sangue. Quatro gerações de invernos inclementes, ventos glaciais e neves dantescas que o precederam e que todos juntos se mostraram incapazes de cravar nos seus genes marcas indeléveis e que contribuiram zero para talhar nele o carácter sólido e austero que prolifera naqueles habitats.
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Depois aquilo. Ironia das ironias, na tarde em que ocorreu andava o termómetro entúpido há três dias na casa dos trinta sem ostentar pressa em se dignar a descer do poleiro, as nuvens desaparecidas, ia para semanas, bem sabe Deus onde, ou nem Ele, o vento ameno, rasteiro. Deram com ele no chão da cozinha com o Aleph do Borges ainda na mão e com os trinta anos por fazer. Era como se a selecção natural de gadanha às costas tivesse interrompido o serviço por distracção, atordoada sabe-se lá se pela febre daquele Verão nefasto. Só isso justificava o trabalho incompleto. O médico, com a solenidade que se reserva para as exéquias fúnebres, detalhou-lhes com desmesurada minúcia, com recurso a desenhos e gráficos, que a extensão dos danos causados à artéria basilar não prefigurava grande prognóstico e na sequência pintou-lhes em cores negras a meia dúzia de cenários nos quais o referido prognóstico poderia converter-se. Douto médico que sabia bem do seu mester, não foi necessário aguardar muito e um após outro todos os cenários se concretizaram. A devoção da esposa, uma dessas muitas santas por canonizar, permaneceu inalterada. Com o pragmatismo de toda a vida, limitou-se a ir desenterrar onde sabia que estavam escondidos os artifícios adicionais para saber continuar a demonstrá-la em dose acrescida e assim o teria continuado a fazer pela imensidão dos anos, com o amparo de Deus Nosso Senhor, não tivesse a morte vindo desampará-la fora de tempo. Havia também a menina, a que lhe retirou da mão o livro e que sem saber ler deduziu ali nos olhos do pai o horror do que é vaguear pelos labirintos da eternidade. E o que não compreendeu naquele instante compreendeu-o com o somar dos anos. Na escola, por exemplo, onde os labirintos em que habitavam os pais das outras crianças se afiguravam menos opressivos e mais convencionais e onde aprendeu que convencional também é a arbitrariedade que divide o mundo entre os bem-aventurados e os outros, uma teoria que se transmutou em prática no momento em que a voz do padre que encomendava o pó ao pó e que proferia com uma voz de sobressaltar os cépticos que nada neste mundo há que não tenha o seu tempo nem a sua ocasião, que para nascer existe um tempo, que para morrer existe um tempo, quando se lhe abriram nesse preciso instante os olhos e constatou que não tinha senão dezassete anos. O tempo que é uma panaceia, que tudo cura. Cura o tanas, quando muito atenua a dor. Resignou-se depois daquilo e acabou a fazer disso um lema. Atenuar-lhe a dor na expectativa de que se lhe aliviasse a sua. Nem sempre resultou mas nas noites eternas do Inverno canadiano sempre a foram acudindo os cigarros e o whiskey com e que nela corria a sexta geração de valoroso sangue irlandês. Quanto a ele, sem que alguém o pudesse saber, após muito arrastar-se pelo vasto deserto que separa a negação da aceitação aprendeu também a submeter-se a um existir na galáxia idiossincrática a que estava confinado. Contanto não sentisse frio, bem visto.
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Foram ricos, possuidores de casas de doze quartos, carros de marcas alemãs e vestidos de estilistas gay. Durante onze horas foram milionários abastados. Depois não. No meio tempo celebraram como se não houvesse amanhã, amanhã que lastimavelmente houve, e quando, bem cedo, logo que o estabelecimento abriu, confirmaram o montante do prémio a que correspondiam os números que a sorte lhes benzera, nem casas, nem carros, nem vestidos. Ainda assim chegou um cheque pelo correio. Ela exigiu Roma. Não a imperial Roma empapada pelo sangue de galdiadores chacinados, vestais entumbadas e escravos crucificados, nem a Roma covil da depravação papal, nem a da alucinação da longa noite fascista. E não, decerto, a Roma impiedosa, tirânica, do acumular de portas que nunca condesceram a abrir-se e que catapultaram Tosca para a vasta expansão dos alfas, dos ómegas e dos alephs. Não essa Roma asfixiante arraigada nos compêndios maciços dos anos bons de Saskatoon, onde houve um curso de história e um horizonte que não era o das pradarias e depois não houve porque com aquilo e outros afins, sem muito alarido, foi ver mirrarem-se-lhe depressa as aspirações. Uma outra Roma, cinematográfica, a do Roman Holiday onde por uns dias a Audrey Hepburn não foi princesa, a da noite em que a Anita Ekberg se permitiu ao enlevo de não ser actriz na Dolce Vita da deriva pelas ruelas da cidade e do baptismo na Fontana di Trevi, a do L’Eclisse onde a Monica Vitti quanto mais não seja tentou, embora não muito.
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A sugestão terá vindo da funcionária da agência, uma lambisgóia do Quebec cujo propósito único do respirar não seria outro que o de reduzir a vida do semelhante a um horto de espinhos, um alvitre da dita lambisgóia o cruzeiro, um estratagema intelegentíssmimo que possibilitava visitar meia Europa por atacado em dez dias e evitar dessa forma o enfado de dilapidar duas mãos-cheias de dias numa única cidade, genial, não? Que sim, há-de ter ele obedecido num acenar boçal. Confontrada com o mimo, pago, não reembolsável, não se imaginou a conjurar as forças requeridas para virar o mundo de pernas para o ar. De Roma sobrava uma escala em Civitavecchia ao dia sete, apanhar taxi ou combóio e depois saltitar do Coliseu para o Panteão ao compasso das hordas e, se a complacência dos deuses não se esgotasse no entretanto, ir ainda a Trevi atirar uma moedinha.
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O padre era o mesmo, casara-a no fim-de-semana anterior. Até que a morte os separe, agoirou bem alto para os poucos presentes, não separe o homem o que Deus uniu. Soou-lhe pouco correcta essa tendência de colocar às costas de Deus todos os pecados do mundo, se alguém unira fora ela, mais as cervejas, mais o preservativo que nenhum deles se deu ao trabalho. Acordara grávida, trajada de branco da cabeça aos pés, véu, grinalda, a tresandar a gardénias. Pelo caminho perdera a criança e que a elucidasse alguém com entendimento se se divisava naquilo algum sentido. Gostava dele? Tinha dias, mas o que menos lhe escasseavam eram coisas das quais gostava sem que por isso tivesse a mais leve intenção de vir a contrair núpcias com as mesmas. O padre era o mesmo, e as flores quase que afiançaria que também. O pó ao pó e que nada no mundo havia que não tivesse o seu tempo ou a sua ocasião, que para nascer existia um tempo, que para morrer existia um tempo. E convencera-se ela que a mãe lhe morrera fora de tempo. Viver e aprender. Mas nem por isso menos bizarra a obstinação daquela cronologia divina em se manifestar pelo cancro nos ovários entre as mulheres da família, que as colhia sem dó nem agravo bem antes dos cinquenta e que a sujeitava agora a engolir a seco a constatação de que também a ela a orfandade lhe viera bater à porta.
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Cá fora o dia ainda era branco, brumoso, o céu e a pradaria numa mescla de névoa pastosa que tornava impossível distinguir onde começava um e terminava o outro. O primeiro toque de Outono a querer já empacotar um Verão que nem lá vou nem faço míngua. Um branco opaco que amortecia o eco tétrico do Velho Testamento no interior da capela. Fez-me comer ervas amargas e fartou-me de fel. Ainda assim um tudo nada menos amargo o respirar-se cá fora. A escadaria tinha poucos degraus mas alta o necessário para que dali o horizonte se lhe desenhasse lúcido qb. Uma longa procissão composta por legiões romanas, guerreiros etruscos e mercenários partos despedia-se a caminho das calendas gregas. Depois disso a podridão do vazio que se lhe imiscuía pelos poros. Um marido de microfone em riste a declamar árias de muita estima e bem-querer de fazer corar qualquer Petrarca de fim-de-semana, promessas de entulhar o inferno que nessa matéria parece elástico. As flores que daí em diante colocaria sozinha na campa do que foi possível recuperar do Afeganistão para ser depositado sob o nome e as data cruciais que registavam a passagem do pai pelo reduto dos mortais. O miasma do viver a prazo e a fentanil no torpor em que o irmão optara por se refugiar. A criança, não a que morreu, uma outra que não morreria, e que a perdoassem muito os santinhos todos, mas às vezes, Deus tenha misericóridia, dão tão menos desgostos as que não vingam. E a herança de um avô entorpecido que por mais que a cadeira de rodas mudasse de divisão não combinava com nenhuma. Tentou, se tentou, não há-de existir no Olimpo deus que não o ateste de bom grado, inclusive os de feitio mais mesquinho, que os há, mas fazer o quê?, os sangues não são todos do mesmo molde, não lhe corria ali nem estoicismo nem compaixão os quais não são propriedade de todos, e que só por essa razão maior não fora dotada da arte da ternura, do altruísmo e da entrega com que a mãe, a artista de circo que de dia fazia de palhaço triste a sorrir numa recepção de hotel e à noite de malabarista a fazer por equilibrar copos de cerveja no balcão de um bar de estrada, adjectivou a sua vida. Além de que não conseguia afastar da mente o facto de que entre ela e o dever de assumir esse empecilho complementar se interpunha um abismo de duas gerações.
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De momento, porém, tudo o que pede é que lhe concedam dois minutos de sossego enquanto se permite mergulhar na representação a pastel daquela Cagliari em cartão-postal empilhada até ao topo da colina. Agora sim, o navio move-se. A omissão da sua omnipresença faz-se sentir, sabia que sim, por isso não o regista sequer com qualquer estranheza ou desconforto. A cadeira ficara ali cinco minutos mal contados, o tempo de se tirarem as fotografias obrigatórias, umas selfies com o mar pelas costas em sorrisos diáfanos, dúzia e meia de grandes angulares e três ou quatro rápidas para o album do eu em Cagliari, eu em Marselha, eu em Barcelona e queira Deus eu em Roma. Cem metros, menos talvez. Depois a intenção era regressar ao barco que o tempo escasseava. Com ele, óbvio. A seguir já menos óbvio. Agarrou-lhe no braço. Ela agarrou. Ele protestou. Protestava sempre. Até aceitar. Aceitava sempre. Há-de ser mais feliz aqui, são tão impiedosos os Invernos no Canadá, alguém cuidará dele, há sempre quem cuide, é o que faz o mundo girar, a generosidade. Ainda protestou, ao entrar no barco, baixinho, não fosse ela mudar de ideias. Antes de lhes darem com o rasto até às entranhas do Saskatchewan, que não me doa a mim a cabeça.
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Alimentava alguma esperança de conseguir localizar o local exacto a partir do navio. Um jardim, lá no alto. Era tudo. Para cima não fixara o caminho, para baixo menos, com o cachopo aos soluços, que não podia ter escolhido momento mais inoportuno para por uma singular ocasião na vida expressar um módico de interesse pelo bisavô. Um jardim, lá no alto, entre o labirinto compacto de edifícios de contornos dúbios a que o lusco-fusco não ajudava. E no que tocava a topografias não era fácil ser-se mais inútil que mesmo o trajecto da cozinha ao sótão lhe parecia sinuoso. Um jardim, lá no alto, por esta altura alguém já teria dado com ele. Bem melhor que o suplício da pradaria. Se quisesse ser interamente honesta consigo mesma havia que conceder que, feitas bem as contas, Cagliari revelara-se insipidazinha. Talvez com mais vagar, menos afã, noutra vida. Mas sabem-lhe bem aqueles momentos curtos no instante em que a cidade se dilui ao longe no olvido do anoitecer, enquanto pode aspirar o bálsamo da maresia e encher com ele os pulmões na crença de que alguns átomos ali façam casa. E o odor da antecipação. Amanhã é o grande dia. Roma.